sexta-feira, 1 de junho de 2012

MELANIE COE - SHE'S LEAVING HOME

No dia 17 de fevereiro de 1967, o Daily Mail publicou uma notícia sobre uma jovem que havia fugido de casa e seus pais que se mostraram muito contrariados. Paul McCartney viu o jornal nesse dia e achou que a história da menina fujona era um ótimo tema. E assim, ele criou a melodia e grande parte da letra que narra os passos da jovem que abandonava a casa dos pais. Quando mostrou para John Lennon, ele completou com o refrão simbolizando os pais da menina e idealizou o modo como ele deveria ser cantado: como um lamento. O coro da canção contraposto ao refrão cantado por John - com duplicação de voz (overdub) - cria um efeito mágico e impressionante. A gravação teve início no dia 17 de março de 1967 com seis tomadas, só participando a orquestra de cordas. O take 1 foi considerado o melhor. No dia 20 foram gravadas as vozes, o coro e o refrão. Nenhum dos Beatles tocou qualquer instrumento. Só as vozes de Paul McCartney e John Lennon. E a orquestra. A idéia de utilizá-la foi de Paul. Com a música na cabeça, ele pediu para George Martin, o produtor do disco em gestação e arranjador oficial dos Beatles. Sempre disponível em outras ocasiões, desta vez ele estava envolvido em outro trabalho já que era um produtor independente e não trabalhava só para os estúdios Abbey Road. Não tendo a paciência de esperar uns dias a mais, Paul procurou outro profissional a quem passou a tarefa de criar um arranjo para esta melodia. Este arranjador foi Mike Leander que realizou o trabalho. George Martin ficou magoado pela impaciência de Paul, mas mesmo assim foi ele quem coordenou a orquestra e realizou a gravação com ela. O nome da menina era, e ainda é Melanie Coe. Muitos consideram "She's Leaving Home", uma das músicas mais tristes dos Beatles.
“THE BEATLES - A HISTÓRIA POR TRÁS DE TODAS AS CANÇOES” – Steve Turner
SHE’S LEAVING HOME
Em fevereiro de 1967, Paul se deparou com um artigo de jornal sobre uma adolescente londrina de 17 anos que tinha sumido de casa fazia mais de uma semana. O pai, aflito, foi citado ao afirmar: "Não consigo imaginar por que ela fugiria. Ela tem tudo aqui". Adolescentes fugindo de casa eram o assunto do momento em 1967. Como parte da criação de uma sociedade alternativa, o guru da contraculturaTimothy Leary incitou seus seguidores a "desertarem", abandonarem a escolarização e o emprego formal. Como resultado, torrentes de jovens foram na direção de São Francisco, centro do Flower Power. O FBI anunciou 90 mil fugitivos naquele ano — um recorde.
Com apenas a matéria de jornal para se basear, Paul escreveu uma música comovente sobre uma jovem fugindo de uma casa claustrofobicamente respeitável em busca de diversão e romance nos agitados anos 1960. O que ele não sabia na época era o grau de exatidão dessa especulação. Ele também não fazia ideia de que tinha conhecido a garota em questão apenas três anos antes. A fugitiva da história era Melanie Coe, filha de John e Elsie Coe, que viviam em Stamford Hill, norte de Londres. As únicas diferenças entre a história dela e a cantada na música são que ela conheceu um homem em um cassino, em vez de "na loja de carros", e que ela saiu de casa de tarde, enquanto os pais estavam no trabalho, em vez de pela manhã enquanto dormiam. "O impressionante sobre a música era quanto ele acertou sobre a minha vida", diz Melanie. "Falava dos pais dizendo 'we gave her everything money could buy'z8, o que era verdade no meu caso. Eu tinha dois anéis de diamante, um casaco de pele, roupas de seda e cashmere feitas à mão e até um carro." Melanie continua: "Depois, havia um verso que falava 'after living alone for so many years'79, o que realmente me tocou porque eu era filha única e sempre me senti sozinlia. Nunca tive diálogo com nenhum dos meus pais. Era uma batalha constante. Eu saí porque não conseguia mais encará-los. Ouvi a música quando foi lançada e pensei que era sobre alguém como eu, mas nunca sonhei que na verdade fosse sobre mim. Eu me lembro de pensar que não tinha fugido com um homem do mercado de automóveis, então não podia ser eu! Eu devia estar na casa dos vinte quando minha mãe disse ter visto Paul na televisão, e ele tinha dito que a música era sobre uma matéria de jornal. Foi quan­do comecei a dizer aos meus amigos que era sobre mim". O caso de Melanie é exemplar do conflito de gerações do fim da década de 1960. Melanie desejava uma liberdade da qual tinha ouvido falar, mas que não tinha encontrado em casa. O pai dela, um executi­vo de sucesso, e a mãe, cabeleireira, tinham um casamento insosso e frágil. Eles não tinham religião, e as coisas mais importantes da vida eram respeitabilidade, asseio e dinheiro. "Minha mãe não gostava de nenhum dos meus amigos. Eu não podia levar ninguém para casa. Ela não gostava que eu saísse. Eu queria atuar, mas ela não me deixou ir para a escola de teatro. Ela queria que eu fosse dentista. Ela não gos­tava de como eu me vestia. Ela não queria que eu fizesse nada que eu queria. Meu pai era fraco. Ele acatava qualquer coisa que minha mãe dissesse, mesmo que discordasse", conta Melanie.
Foi através da música que Melanie encontrou consolo. Aos 13 anos, ela começou a frequentar os clubes do West End de Londres e, quan­do o lendário programa de televisão ao vivo Reaày Steaày Go! começou, no fim de 1963, ela se tornou uma dançarina regular nele. Os pais dela muitas vezes vasculhavam os clubes e a arrastavam de volta para casa. Se chegasse tarde, apanhava. "Quando saía, podia ser eu mesma. Aliás, nos clubes eu era encorajada a ser eu mesma e a me divertir. Dançar era a minha paixão. Eu era louca pela música da época e mal podia esperar até que o próximo single saísse. Quando a música diz 'Some-thing was denied'80, esse algo sou eu. Eu não podia ser eu. Eu estava procurando diversão e carinho. Minha mãe não era nada carinhosa. Ela nunca me beijava", Melanie conta.
Em 4 de outubro de 1963, Melanie ganhou um concurso de mímica no Ready Steady Go! Por coincidência, era a primeira vez que os Beatles estavam no programa, e ela recebeu o prémio das mãos de Paul McCartney. Cada um dos Beatles deu a ela uma mensagem autografada. "Passei o dia nos estúdios ensaiando, então estive perto dos Beatles a maior par­te do tempo. Paul não estava a fim de muito papo, e John parecia distante, mas passei um tempo conversando com George e Ringo", ela conta.
Sair de casa levou Melanie aos braços de David, um crupiê que conheceu em um clube. Eles alugaram um apartamento em Sussex Gardens, perto da Paddington Station, e enquanto davam um passeio uma tarde viram a foto dela na primeira página de um jornal vesper­tino. "Voltei imediatamente para o apartamento e coloquei óculos escuros e um chapéu", ela conta. "A partir daquele momento, vivi com pavor de ser encontrada. Eles conseguiram me achar depois de uns dez dias, porque acho que deixei escapar onde meu namorado trabalhava. Falaram com o chefe dele, que me persuadiu a ligar para eles. Quando eles ligaram para ir me ver, me enfiaram na parte de trás do carro e me levaram para casa."
Para fugir dos pais, Melanie se casou aos 18 anos. O casamento não durou muito mais do que um ano, e, por volta dos 21, ela tinha se mudado para os EUA para viver em um ashram e tentar trabalhar como atriz. Hoje Melanie vive na Espanha com dois filhos e o namorado. Ela compra e vende jóias de Hollywood dos anos dourados. "Se eu fosse viver minha vida de novo, não escolheria fazer tudo igual. O que eu fiz foi muito perigoso, mas tive sorte. Acho que é bom ser imortalizada em uma música, mas teria sido ainda melhor se tivesse sido por ter feito alguma coisa, em vez de por ter fugido de casa", ela comenta.

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